Quando pequeno, o ser humano aprende a viver observando o outro.
Um bebê, por exemplo, começa a falar as primeiras palavras depois de
tanto ouvi-las. O mesmo acontece com crianças mais crescidas: elas
passam a fazer coisas - boas e ruins, há que se destacar bem -
percebendo quem está ao seu redor e o que essa pessoa faz. Natural
então, que se mirem nos familiares. "Por isso, pai e mãe não podem ser
adeptos do 'faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço'", explica a
psicopedagoga Maria Cristina Mantovanini.
Ou seja, o desejável é que a família eduque com atitudes,
e não só com palavras. Sem ação, não há discurso que se sustente. Isso
não quer dizer, é claro, que os pais tenham de fazer com que os filhos
se comportem como eles. Crianças não são miniadultos, como bem ilustra o
psicólogo Yves de La Taille no livro Formação Ética - Do Tédio ao
Respeito de Si (Artmed). Educar com exemplos significa ajudar a garotada a se constituir como ser humano, sem deixar de respeitar a infância.
Terreno fértil
A boa notícia é que, ao contrário do que muita gente grande pensa,
gente miúda adora aprender. Desde que o aprendizado deixe espaço para a
experimentação e não seja simplesmente algo imposto ou mesmo sonhado
pelos pais.
Que tal, então, ir a exposições de arte interativas, em vez de arrastar
um menino de 5 anos para uma mostra de esculturas de cristal? Só assim a
arte vai passar a fazer sentido para ele e lhe despertará algum
interesse. De acordo com o educador alemão Friedrich Froebel
(1782-1852), brincar é um dos primeiros recursos da aprendizagem,
mas, para que funcione, não pode ser simplesmente diversão. Tem de
fomentar questionamentos e desafiar os baixinhos a pensar. Na essência,
brincadeiras são representações do mundo que ajudam as crianças a
entendê-lo.
Quanto à aula de piano, de futebol, de inglês... Será realmente
necessário que seu filho aprenda isso nesse exato momento da vida? Em
vez de piano, será que ele não se interessaria mais por canto? O futebol
não poderia ceder lugar à natação? Antes de pensar que você está dando
tudo de melhor a ele, experimente analisar se não está tutelando o amor
da sua vida em demasia. Indo aos cursos obrigado, definitivamente ele
não está desenvolvendo interesse por eles, muito menos vontade de
aprender mais. Quando isso acontece, é normal encontrar filhos
questionando os pais."Por que eu tenho de ir e você não?" Difícil
apresentar um argumento válido, concorda? Ainda mais porque nenhuma
resposta vai ser melhor que uma atitude sua, como acompanhá-lo na
atividade e depois conversar sobre o que ele pensa a respeito dela. Do
mesmo modo, pais que educam de verdade não impõem o dever de casa como
condição para poder brincar, por exemplo. Demonstram a validade do que
os professores ensinam e a necessidade das tarefas. E quem reserva o
momento da lição dos filhos também para estudar - ainda que seja algo
distante do conteúdo escolar tradicional - reforça ainda mais a
importância da educação, embora essa atitude seja para muitos adultos
uma privação do tempo disponível para ver televisão, por exemplo.
Antes que eles cresçam...
Quanto mais o tempo passa, mais complicado fica educar os filhos com
exemplos. "As referências dos jovens mudam e o universo deles cresce. Os
pais não representam o mesmo para eles", diz Maria Cristina. Por isso,
há muito que se investir na infância com hábitos - ainda que alguns
deles pareçam simplistas. Eliminar palavrões do seu vocabulário é bem
mais eficaz que dar bronca nas crianças quando elas falam algum. Ir à
biblioteca junto com elas e escolher um livro para cada uma é mais
válido que terminar o ano reclamando que seus filhos não leem tanto
quanto você gostaria. "Pesquisas comprovam que ler para as crianças - e
não só contar histórias - é determinante para o sucesso escolar",
enfatiza a pedagoga Ana Flavia Castanho, de São Paulo.
Já estamos cansadas de saber que grande parte do que somos quando
crescemos tem raízes profundas na infância. Porém a companhia educativa
dos pais, externalizada por exemplos, não poupa ninguém de enfrentar os
grandes questionamentos da vida. Mas certamente alivia o peso deles,
apontando os melhores caminhos a serem seguidos.
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